DESCRIPTION:
Realização © Pedro Estêvão Semedo

Chico Buarque sempre foi reconhecido como um dos poetas que mais sensivelmente soube captar e exprimir o feminino, traduzindo-o em palavras e em música. Nenhum outro compositor compreende a alma feminina como ele. Pelos seus versos e melodias desfilam amores felizes e amores infelizes, sonhos e pesadelos, homens que amam mulheres e mulheres que amam mulheres, e o travesti heróico que salva uma cidade. Desfilam esperanças e desesperanças, numa vertigem de imagens e conflitos que compõem o dramático mosaico da alma humana. Chico tornou-se um retratista e um porta-voz das inquietudes, angústias e esperanças do seu tempo, pois identifica-se com as pessoas e -- muitas vezes, tantas vezes -- traduz essa identificação mostrando-lhes(nos) coisas que elas desconheciam a respeito da sua própria vida, do seu próprio dia-a-dia, do seu pequeno e vasto mundo. "Palavra de Mulher" é um conjunto de histórias vividas pelas várias personagens femininas que habitam o universo de Chico Buarque -- e que aqui traduzem poeticamente as coisas mais quotidianas do amor.

© "Sofia Vitória & Luís Figueiredo - Palavra de Mulher"
(Sintoma Records · 2014)

Sofia Vitória | voz
Luís Figueiredo | piano, rhodes e arranjos
João Moreira | trompete e flugelhorn
Guto Lucena | clarinete baixo
Mário Franco | contrabaixo
Joel Silva | bateria
Ricardo Toscano | saxofone alto
César Cardoso | saxofone tenor
Luís Cunha | trombone

https://www.facebook.com/sofiavitorialuisfigueiredo
http://www.sofiavitoria.com
http://www.luisfigueiredo.net

Cotidiano
(Chico Buarque · 1971)

Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã

Todo dia ela diz que é pra eu me cuidar
E essas coisas que diz toda mulher
Diz que está me esperando pro jantar
E me beija com a boca de café

Todo dia eu só penso em poder parar
Meio dia eu só penso em dizer não
Depois penso na vida pra levar
E me calo com a boca de feijão

Seis da tarde como era de se esperar
Ela pega e me espera no portão
Diz que está muito louca pra beijar
E me beija com a boca de paixão

Toda noite ela diz pra eu não me afastar
Meia-noite ela jura eterno amor
E me aperta pra eu quase sufocar
E me morde com a boca de pavor

Todo dia ela faz tudo sempre igual
Me sacode às seis horas da manhã
Me sorri um sorriso pontual
E me beija com a boca de hortelã