Gente no Lixo - Video
PUBLISHED:  Nov 11, 2016
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No ar, [Gente no Lixo], por Joaquim Cantanhêde

Longe dos olhares da cidade, do burburinho urbano, encontro-me envolto no silêncio e na fumaça que fumega, dividindo espaço com urubus, carcarás, anuns, mas o que predomina aqui é o lixo, de toda espécie. Sacolas, pneus, cadáveres de animais, a sensação é de estar em outro mundo e por mais que muitos ignorem, habitado ainda que em condições inabitáveis.

Na parte mais densa encontro Maria, Maria das Cruz ela exclama. Inicialmente ponho-me a indagá-la, tentar entender o porquê de estar ali ainda que nos pareça óbvio. Do lixão ela cata o plástico, madeira para fazer carvão ou algum objeto que lhe possa ser útil. Logo em seguida põem um enorme saco na cabeça e caminha pela estrada empoeirada rumo ao lar que fica dentro do lixão. Ao ser indagada se poderia ser fotografada Maria não conversa muito, demostra certo conformismo e um misto de fé. Reclama de quem tem vergonha daquela condição de vida e me permite fotografá-la durante o trajeto.

No continuar da conversa descubro que uma de suas filhas abandonou a escola, casou-se, na verdade nenhum de seus 4 filhos estão. Levava em sua mão um óculos que só percebi quando ela parou no meio do caminho para mostrá-lo a um jovem rapaz, um vizinho. Fiquei a pensar no lixão com uma espécie de purgatório das coisas, que estão ali por terem perdido o valor, destinadas a longos anos de decomposição, algumas são “salvas”, tal qual o óculos catado por Maria, “chique” segundo ela.

Não muito distante de sua casa encontra-se um antigo galpão onde funcionou por alguns anos uma Cooperativa de Catadores, o visitei em algum momento e pude ver quão salutar era o trabalho que desenvolviam, mas depois que a atual gestão municipal (que deveria ter dado continuidade a parceira) assumiu a administração de Pedreiras as coisas começaram a desandar. O próprio conceito de cooperativismo se perdeu, houveram divisões que somadas a falta de suporte culminaram na imagem de um galpão ocioso, distante de sua finalidade.

Depois de alguns passos adentrei o quintal da casa de Maria, que não tem muro, na verdade o lixo é o divisor, por todos os cantos. A fumaça já irritava minhas narinas e prejudicava a respiração, um ambiente totalmente insalubre. Ela não é a única a viver nessas e dessas condições, dezenas de famílias moram no Lixão do Morro da Balança, que em determinado momento vai acabar, pelo que vi já há uma movimentação da próxima gestão quanto a isso.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos determina até quando e o que fazer com os lixões, mas e quem vive dele? E Maria? Lixão não é só seu trabalho, é sua casa. Talvez alguém questione que não seja uma lar, mas a sociedade que determina o que seria um lar só pode oferecer a Maria um lixão.

Sou plenamente a favor do fim dos lixões, mas leviano seria entender o enredo apenas pelo viés ambiental. Viver do lixão não é uma escolha, é uma condição, assim sendo a questão é mais profunda. Imagine esse drama pelo Brasil, quantos lugares onde o lixo é jogado irregularmente não temos nesse país de tamanho continental. Fato é que o futuro de pessoas nas condições de Maria é tão incerto quanto o futuro do lixo.

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