Tantra

Location:
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, BR
Type:
Artist / Band / Musician
Genre:
Rock / Powerpop / Psychedelic
Site(s):
Label:
Orbita Music/Paravox loja: www.paravox.com.br
Type:
Indie
Eles ainda se chamam Tantra



Arthur Dapieve



para o site www.nominimo.com.br



A história começa no tempo em que a MTV passava clip. Muito tempo, quase dez anos. Primeiro, em meados de 1996, vieram um single e um clip para uma música extraordinária chamada Corvos sobre o campo. Talvez você se lembre de um ou de outro, um rock aguerrido com um refrão autocolante (Yeah! Yeah! Yeah! Nada vai durar/ As maldades serão coisas belas enfim/ Nada vai durar tanto assim/ Abra os olhos então/ Olha os corvos sobre o campo) ou imagens inspiradas em Van Gogh, ou melhor, na visão de Sonhos, de Akira Kurosawa, sobre Van Gogh.



Antes do final daquele ano, chegou às lojas um álbum inteiro, Eles não eram nada, produzido por Liminha e, como o single, com a capa feita por Luiz Stein. Uma conjugação de talentos que indicava, mesmo a quem tivesse perdido Corvos sobre o campo, que os autores das músicas gozavam de algum prestígio e confiança. O álbum não decepcionava. Ao contrário, talvez fosse até o melhor disco de banda estreante de 1996 (para mim, foi). Trazia Um dia de sol, lindíssimo réquiem para um pai; trazia Mordacchia, Erika, Barbie e Ken; trazia, ainda, uma furiosa Tropicália.



Ah, o nome da banda era Tantra. Algum registro? Possível e infelizmente não. Depois de soar como the next big thing, Fred Nascimento (voz e guitarra), Gian Fabra (baixo) e Marcelo Wig (bateria) se recolheram. Talvez tenha sido a responsabilidade de lançar outro disco tão bom, talvez tenha sido a necessidade de trabalhar em outras coisas para sobreviver. O fato é que o Tantra sempre com Nascimento e Fabra, mas no meio do caminho já sem Wig se recolheu por quase dez anos. Cinco deles gastos na produção de um novo álbum. Bem, a boa nova é que este álbum, A febre dos sonhos, está pronto. A má nova, que por enquanto ele é apenas um CD-R rodando de ouvido em ouvido.



Se Eles não eram nada saiu pela MCA, A febre dos sonhos procura pouso comercial. Essa falta de vínculo inicial, porém, fez bem ao resultado: o disco foi gestado sem pressão, sem prazo. Tanto tempo depois da estréia, livre do seu peso, o Tantra também se beneficia da ausência de expectativas. Quase ninguém mais se lembra dele. Tanto tempo depois, seus membros amadureceram ainda mais do que na primeira encarnação. Nela, Nascimento e Fabra já haviam sido músicos de apoio da Legião Urbana, o que, convenhamos, não é pouca coisa. O guitarrista hoje trabalha direto com o Capital Inicial. E o baixista foi o co-autor das letras dos dois discos solo do baterista da Legião, Marcelo Bonfá.



Além de Nascimento e Fabra, o Tantra versão 2005 é formado pelo tecladista Carlos Trilha, produtor dos discos solo de Renato Russo, e pelo baterista Lourenço Monteiro. Mais jovem dos quatro, Monteiro tocou , entre muitos outros, com Evandro Mesquita e Frenéticas no momento, responde pela bateria de Marcelo D2. Uma pergunta válida pode estar ocorrendo ao leitor: o acúmulo de referências legionárias em três quartos do Tantra significa que ele é um grupo tributário? Sim e não. Assim como experiências não se apagam, o quarteto carioca acalenta a seriedade e a melancolia que fizeram a glória da Legião. Contudo, se Eles não eram nada refletia o fascínio pelo britpop e pelo grunge, A febre dos sonhos tem referências mais clássicas dentro do rock, coisa de Led Zeppelin, Pink Floyd e tal.



O título do álbum inédito foi tirado de Ode marítima, poema de Álvaro de Campos, um dos heterônimos de Fernando Pessoa: Boa viagem! Boa viagem!/ Boa viagem, meu pobre amigo casual, que me fizeste o favor/ De levar contigo a febre e a tristeza dos meus sonhos,/ E restituir-me à vida para olhar para ti e te ver passar./ Boa viagem! Boa viagem! A vida é isto. A viagem de A febre dos sonhos é das boas, maduras e bem pensadas. Inclui músicas longamente buriladas, como O mundo perfeito e Quando você ouvir a minha canção, e produções mais recentes, como a delicada instrumental Piano painting, que funciona de vinheta entre os hipotéticos lados A e B. Nascimento, Fabra e Trilha são do tempo em que a gente se enamorava por LPs, vinil em contemporanês.



Se uma das músicas é candidata a Corvos sobre o campo dos anos 00, na minha opinião esta música é O zepelim, um baladão zen sobre o fluxo da vida. A faixa tem duas belas participações especiais: a poderosa Lilian Valeska (ex-Sublimes), fazendo vocalises à moda do Pink Floyd de The dark side of the moon, e a doce Fernanda Takai (do Pato Fu), substituindo Fred Nascimento num dos refrães um dia este dia vai chegar/ Um dia este dia vai passar/ Às vezes o mar também se revolta/ Tudo que vai de alguma forma sempre volta. Além das duas cantoras, Dado Villa-Lobos, o guitarrista da Legião, é a única outra canja em A febre dos sonhos: ele toca bandolim em Assim parece ser. O que leva a notar que o Tantra faz um bocado de som para um quarteto quase solitário.
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